Wine & Design

Entre os designers (ou desenhistas industriais, para quem preferir) o alemão Dieter Rams é quase uma lenda. Rams é conhecido sobretudo pelos produtos que projetou para a Braun cujos ecos (estéticos e funcionais) chegam até nós, entre outros, pelos produtos da Apple, de Jonathan Ive.

“Funcionalista” — e adepto de uma respeitável Irmandade que teve entre seus principais
representantes “sacerdotes” como Leonardo da Vinci (“La semplicità è l’ultima sofisticazione”) e Ludwig Mies van der Rohe (“Less is more”) , para Dieter Rams, o design também pode ser sintetizado em uma frase: “Weniger, aber besser”.

Ao se perguntar que características deveria ter o “Bom Design”, Dieter Rams criou um
decálogo. E, mesmo não sendo ele um Moisés, vale à pena escutar seus Mandamentos:

O Bom Design é inovador.

O Bom Design faz um produto ser útil.

O Bom Design é estético.

O Bom Design nos ajuda a entender um produto.

O Bom Design é discreto.

O Bom Design é honesto.

O Bom Design é durável.

O Bom Design preocupa-se com os mínimos detalhes.

O Bom Design preocupa-se com o meio ambiente.

O Bom Design tem o mínimo de design possível.

Muitas vezes tenho me perguntado (e sido perguntado) sobre o que é um Bom Vinho. E de
repente me dei conta que os Dez Princípios de Dieter Rams podem, de alguma forma, ser
adaptados a essa discussão.

Mas por que será que deveríamos tentar achar dez princípios que definam um Bom Vinho?

O psicólogo cognitivo George Miller, po exemplo, faria por menos… Publicou na Psychological Review, em 1956, um artigo intitulado “The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information”. Ao final do texto — onde discorre sobre a capacidade de retenção de dados pela memória humana —, Miller resume:

“Afinal, o que é que o número sete tem de mágico? Por que falar das sete maravilhas do mundo, dos sete mares, dos sete pecados capitais, das sete filhas de Atlas nas Plêiades, das sete idades do homem, dos sete portões do inferno, das sete cores primárias, das sete notas da escala musical, e dos sete dias da semana? […] Suspeito que não se trate apenas uma perniciosa superstição pitagórica”.

De fato, falar de três ou quatro maravilhas do mundo antigo não seria suficiente… Falar de
trinta e cinco seria transformar qualquer relato em um tédio insuportável! Sete — duas a mais, duas a menos — é um número que parece ficar na medida certa…

Mas se a memória humana tem seu potencial maximizado entre os números sete e nove, o
número dez supera o Humano e tangencia o Divino. E “Deus está nos detalhes” (como teria
dito Mies van der Rohe)… Como Bom Vinho também só pode ser percebido nos detalhes — o que o torna verdadeiramente Divino —, seguiremos Dieter Rams. Nossos princípios serão dez:

O Bom Vinho tem personalidade.

O Bom Vinho pode ser apreciado em qualquer ocasião.

O Bom Vinho nos transporta para além do vinho.

O Bom Vinho é complexo.

O Bom Vinho é feito com um propósito.

O Bom Vinho é honesto.

O Bom Vinho é duradouro.

O Bom Vinho é rigoroso até o último detalhe.

O Bom Vinho é amigável do ponto de vista ambiental.

O Bom Vinho tem o mínimo de interferência do enólogo.

Apresentados dessa maneira, os Princípios apenas refletem a categorização de Dieter Rams. Para que eles traduzam melhor o universo do Vinho (e não o do Design) talvez eles precisem ser reescritos em outra ordem. Na verdade, há diversos temas a serem discutidos aqui. Continuaremos.

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